Sobre

Projeto de Extensão Cine Descoberta


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Durante o período de ocupação do curso de Letras da Universidade Federal do Ceará, pelos estudantes em greve, várias atividades de formação foram desenvolvidas. Dentre elas, o Cine Ocupa América Latina, circuito cineclubista que ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2016. Foram exibidos documentários e filmes que fomentaram o debate acerca de movimentos sociais que se utilizam da ocupação como estratégia para dar voz às suas causas. Para cada exibição, ao menos um convidado da América Latina esteve presente por meio de vídeo-conferência para debater o filme com o público.

Os bons resultados obtidos a partir dessa experiência conduziram à demanda de dar continuidade ao debate entre estudantes e pesquisadores latino-americanos, especialmente se considerarmos o apagamento no Brasil em relação às experiências sociais e culturais em processo na América Latina. Esse apagamento é ainda mais sensível quando se trata de dar visibilidades a vozes que as grandes narrativas da História relegam à margem dos processos sociais. Tal é o caso dos movimentos de ocupação, bem como dos movimentos indígenas, que têm em comum o enfrentamento de práticas desenvolvimentistas que os tomam como obstáculos a serem superados.

Para a realização deste projeto, consideramos o acúmulo das relações estabelecidas durante a execução do "Cine Ocupa América Latina", e propomos discutir sobre os povos indígenas e sobre o estímulo à formação de cineastas indígenas nos diversos países latino-americanos, tendo em vista que a autorrepresentação é constantemente evocada pelos agentes como uma das maneiras de se construir outro discurso sobre o indígena.

O nome deste projeto, Cine Descoberta, evoca algumas hipóteses: a de que é preciso desconstruir a ideia de um "descobrimento" da América pelos europeus, já que este supõe a invisibilização dos povos originários; a de que nós descubramos a história dos povos originários da América Latina; a da descoberta, pelos brasileiros, do pertencimento à América Latina; e a da descoberta pelo indígena da participação na civilização ocidental.

As discussões sobre as diversas formas de arte no Brasil raramente têm como referência produções oriundas do universo latino-americano. Pouco sabemos da cultura e da história dos países vizinhos, já que geralmente nos voltamos para os padrões europeus e/ou norte-americanos, em acordo com o status de metrópole cultural assumido por potências econômicas em cada momento da história.

A utilização de recursos audiovisuais, por parte dos movimentos indígenas, faz parte do enfrentamento das diversas ofensivas contra a permanência de suas práticas, culturas, línguas e cosmovisão. 

O Projeto de Extensão Cine Descoberta contribui para a divulgação de pesquisas e produções audiovisuais, principalmente aquelas produzidas por pesquisadores e cineastas indígenas, bem como atrai o interesse de estudantes secundaristas, de graduação e pós-graduação em Letras, pesquisadores e público interessado em questões indígenas, cinema e outras artes. 
Ao mesmo tempo, cria um espaço de interação entre estudantes, pesquisadores e professores dos países vizinhos com os do Brasil por meio dos debates e do vasto material de pesquisa e produções próprias que serão desenvolvidos no decorrer do projeto e no qual os participantes poderão ter acesso por meio virtual e assim podem contribuir com o projeto.

Objetivamos com o Cine Descoberta  promover reflexão sobre movimentos indígenas na América Latina, relacionando-os com as práticas sócio-culturais da civilização ocidental, de forma a propor alternativas ao modelo desenvolvimentista que gera exclusão e amplia as desigualdades sociais.